quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rotina

O todo dia, dia a dia, é diferente do de vez em quando, do quase nunca. Basta lembrar o doce comido pela primeira vez, a pessoa à primeira vista, o primeiro dia de aula, o primeiro dia de trabalho, a roupa nova que agora já velha, a primeira conversa com seu melhor amigo e as conversas atuais, o primeiro beijo e o caso de amor de hoje,... São tantas transformações, tudo tão diferente quando deixa de ser novo e passa a ser rotina.
Quando é a primeira vez, se observa detalhes, cores, tons, tudo é minuciosamente registrado, analisado, criticado, sem falar no friozinho na barriga, nas palavras que faltam à boca, nos trilhões de informações que a mente registra de uma só vez, da euforia do novo, do diferente, do prazer em viver o inusitado.
Nos primeiros dois meses de emprego, a empolgação é total, a melhor roupa, o melhor sapato, perfume, maquiagem, etecetera e tal. No namoro igualmente. Na escola nem se fala. E em tantas outras situações. Mas quando vira rotina... tudo é muito comum, qualquer coisa está bom, tanto faz seis ou meia dúzia. E foi vendo por esse ângulo que, por muito tempo, não gostava de rotina, mesmo sendo obrigada a conviver harmoniosamente com ela. Gosto do coração pulsando forte, gosto das horas contadas por ansiedade e não por enfado.
Mas pensando tanto nessa bendita rotina e me negando ao fato de que todos levam essa vida contínua – até certo ponto –, percebi que a rotina não é o pior de todos os males, há um ingrediente na rotina que jamais haverá no novo, no inusitado – experiência – essa essência que dá mais graça e mais cor às muitas de nossas atividades, aproximando-as da perfeição. Pense no primeiro beijo, eca! Pense no namoro/casamento de anos, que quase perfeição! Os primeiros dias de trabalho, quantos gafes e erros bobos que a experiência atual jamais permitiria que acontecesse e tantos outros absurdos que, graças à boa e velha ROTINA, nós não precisamos mais cometer. A rotina é boa, dá consistência à vida.
Então, é sempre bom unir o útil ao agradável. Rotina só é ruim quando não há prazer no que se faz, o que consequentemente acontecerá de forma repetida e sem evolução. Por isso, vamos tentar dar novos rumos ao nosso dia a dia, mudar é sempre bom e faz todo o diferencial. Mudar o caminho, mudar o corte de cabelo, o perfume, a mesa e cadeira do local de trabalho, mesmo que isso seja pouco, já agrega aspectos novos e diferentes ao corriqueiro. Uma boa dose de bom humor, autoestima e criatividade pode salvar o cotidiano.
E falando de mudanças, vou mudar de assunto que este já me rendeu uma lauda. Mas, não sem antes desejar uma boa semana de coisas diferentes na nossa rotina de sempre.
                                                                   
             Tudo de bom e de bem para todos nós sempre!
                                         Mônica Macêdo

Eu Tropeço e eu tropeço.

Tropeço?!..., é assim que me vejo as vezes,
Uma boa definição com alguns equívocos,
...Uma pedra ao meio do caminho.
Daqueles tropeços que lhe arranca do chão,
Não por muito tempo, mas que faz esquecer o que pensava a segundos atrás.
Tropeçar às vezes é bom,
Adianta-lhe boa parte do caminho,
É parecido com uma tentativa frustrada e involuntária de voo,
Acelera-lhe o coração,
Às vezes é sinal de pressa, um alerta que devamos ir devagar e aos poucos,
Outras vezes é falta de atenção, ou cabeça cheia.
Independente da razão do tropeço, ele sempre esboça uma reação.
Uma boa gargalhada,
Uma dor que da ponta do pé chega á alma,
Um palavrão raivoso,
Uma vergonha aguda, estampada no vermelho da face
E uma finitude de efeitos.
Tropeçar é imprevisível,
Há vezes em que tropeçamos várias vezes no mesmo lugar,
Há vezes que um só tropeço e estamos no chão,
Outras que um tropeço nos deixa exatamente no lugar para onde iriamos,
E tropeços que nos mudam o rumo.
E eu até gosto de ser tropeço,
E gosto mais ainda de tropeçar pela vida,
Acredito que isso faz parte do caminho e às vezes passa a fazer parte de nós.
Um tropeço pode mudar muito!

                “O texto surgiu de um equívoco, mas foi um bom tropeço!”

                        Tudo de bom e de bem para todos nós sempre!
                                                                 Mônica Macêdo

Do tamanho da eternidade


Olhando assim para você, cada ponto, cada canto, cada traço, detalhes só teus e tão queridos meus; boca e lábios, olhos e cílios, cabelos e cachos, pescoço e cheiro, seios e carícias, corpo e curvas, mãos e amasso, seu sexo e sua graça, posso afirmar que eternidade é tempo curto e palavra pequena para o tamanho do tempo que desejo passar ao seu lado. Poderia ficar aqui, parada por mil anos analisando cada detalhe numa visão microscópica, devorando você com os olhos e aos pouquinhos, fantasiando mil e uma peripécias desde que eu tivesse mais mil anos para de fato devorar você.
Mas como a vida é curta e dinâmica prefiro aproveitar você por inteiro e em movimento a ter que ficar estática a contemplar sua beleza. Pois para além da admiração há uma vontade se roendo voraz, contando os milésimos para exageradamente se perder e se encontrar e se encontrar e se perder entre as suas delícias.
                                                                     
                                    Tudo de bom e de bem para todos nós sempre!
                                                                  Mônica Macêdo
Ao som de Nando Reis As coisas tão mais lindas.

O vazio

Como se vive só no silêncio? Só no escuro? Só na solidão? Imagine se a vida fosse só noite? E não qualquer noite, mas aquela noite sombria, sem barulho algum, sem ninguém por perto, sem TV ligada, sem som, só você, seu raciocínio, seus pensamentos? Imagine quatro paredes e você! Imagine essa rotina sempre... Eu enlouqueceria!
A solidão dói!
Agora estou tentando ver prazer no silêncio, mas não consigo silenciar o medo de me sentir só. O silêncio e a solidão me atordoam!
Não nasci para ser só, e isso está comprovado desde quando aqui cheguei. Quando vim ao mundo já tinha meia dúzia de irmãos, um pai e uma mãe, os avós, uma multidão de primos e tios e tanta gente. Depois vieram os amigos, os amores, os amantes, colegas de escola, faculdade, trabalho...
Mas às vezes nesse lugar que não é meu, que pouco sei e a ninguém conheço, me vejo trancada num quarto com TV e som desligados, janela e porta fechadas, só eu e o meu reflexo no espelho e fora daqui algumas vozes e barulhos mil na rua. E nesse clima de pouca gente, comecei a imaginar minha vida sem todo o povo que amo e que me mantém viva. E descobri que não sou muita coisa quando estou só e que cada pedaço, cada traço meu tem uma estrofe de música, um parágrafo de uma crônica, de um conto, de uma história, um verso e uma rima de poesia e outros tantos rabiscos e transcritos daqueles que me compõe.
Sou um inteiro feito de pedaços alheios, um conjunto unitário que não é vazio nem infinito, uma coberta de retalhos, um mosaico humano. Então se quer me ver bem, meu bem, não me roube os amigos, familiares, conhecidos,... não me deixe só.    
                                  Tudo de bom e de bem para todos nós sempre!
                                                                  Mônica Macêdo

Sem asas.

Um dia desse eu viajo para qualquer lugar do mundo, onde haja água salgada e sol forte, longe do frio e da seca desse deserto. Posso até ir para o continente gelado, só para ver se desaqueço a alma. Mas qualquer canto, melhor que aqui, já é bem vindo. Cansei desse mundinho, dessa gente triste de máscara alegre, em velório fingindo carnaval.
Qualquer hora dessa eu mudo de endereço, eu mudo de mundo porque este já está enfadonho, já pesa nos ombros, já escorre no rosto e não é suor, é lágrima.
Vou levantar daqui e sair a esmo, procurando uma toca, um esconderijo, um labirinto, um atalho, uma estrada ou qualquer trilha. Queria o Alasca, Rio de Janeiro, Paquistão, Pequim e o resto do mundo, lugares bonitos, lugares sem grandezas, desertos e metrópoles, tudo,... o mundo. Onde vou chegar ainda não sei, só sei que quero ir a todos os cantos. Não quero estacionar se posso caminhar o mundo todo e, só.
Ah, se os pássaros que costumo ver voar no final da tarde me convidassem, me oferecessem carona numa viagem cortando nuvens, cruzando fronteiras, vendo gente em formato de formiga, lá do alto! Ah se viajar custasse apenas a vontade de mudar, de voar, de ir-se aos poucos e ao longe, eu seria marinheiro mesmo estando de carona com pássaros.
                                       Tudo de bom e de bem para todos nós sempre!
                                                                          Mônica Macêdo